Há muito Clarice Lispector (1920-1977) se tornou uma das referências da literatura brasileira. Passados quarenta anos da sua morte, e diante do amplo crescimento de seu reconhecimento fora do país, é possível afirmar que sua figura começa a fazer parte do nosso imaginário cultural literário. Isto é, sua presença encontra lugar entre nossos nomes mais importantes – Machado de Assis, Guimarães Rosa, Jorge Amado, para citar alguns dos sempre lembrados da nossa literatura fora das nossas fronteiras.

O reconhecimento de sua obra iniciado ainda em vida se deu por duas linhas bastante distintas: uns, consideram sua literatura como a que se reveste de um modo peculiar, entretanto simples (no sentido de acessível à fruição), de dizer sobre as inquietações interiores e oferecer uma mirada sobre as coisas que pressupõe a captura do sensível comum e portanto universal desde o interior do indivíduo; outros, preferem insistir no discurso de que sua obra se reveste de um alto hermetismo, o que seria o mais sofisticado da sua criação.

É preferível dizer que as duas linhas não são apenas distintas, mas incapazes de alcançar uma compreensão sensata sobre a literatura de Clarice, quem propriamente disse nunca saber, sobre esta segunda linha, por que alguns estudiosos preferiram manter o discurso da literatura difícil enquanto ela conversava com leitores muito jovens, supostamente imaturos em relação aos da academia, e para estes, sua obra era de uma rica limpidez.

Não desconsideramos o impasse da crítica, mas estamos interessados por outras linhas que visem substituir o mero julgamento sobre a obra (que, no final, em parte, é isto o que significam os limites aqui apresentados). É fundamental, portanto, a leitura atenta de sua obra ora enquanto “uma tentativa impressionante para levar a nossa língua canhestra a domínios pouco explorados”*, ora como a que se filia numa tradição literária cujo fôlego rareia no cenário literário, única capaz de nos oferecer uma mirada autêntica do limiar enformante da existência: o dentro e o fora do sujeito. E é no interesse de sublinhar algumas discussões capazes de renovar as leituras sobre a obra de Clarice que propomos este evento.

Parte na celebração anual proposta pelo Instituto Moreira Salles (IMS), a Hora H, o encontro realizado nos dias 12 e 13 de dezembro de 2017 na Universidade Federal Rural do Semi-Árido / Campus Caraúbas e proposto pelo Grupo de Estudos sobre o Romance em parceria com o Departamento de Linguagens e Ciências Humanas assinala duas datas de quatro décadas: a da morte de Clarice Lispector e a da publicação de seu mais conhecido trabalho – A hora da estrela. Deste, tomamos a primeira e a última frase: “Tudo no mundo começou com um sim”; “Sim”. E, por isso dizemos “Sim, Clarice!”; aqui esperamos vários começos.

*CANDIDO, Antonio. “No raiar de Clarice Lispector”. In: Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades,1970, p. 127-130.

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